A montanha se
move inanimada
na manhã branca
como o amanhã
Como o corpo sempre
vivo
de antigos
monstros gigantes
—
jogados no abismo escuro
do
mundo recém-criado
ou do mar
radioativo
de uma Tóquio
alucinada —
tenta se agarrar
a tudo
e grita sem fala
humana
pra que não seja
trancado
imóvel no
esquecimento,
assim é que a neve
abraça
descendo
relampejante
e puxa tudo o
que toca
pra sepultura
brilhante
(mas que se faz
igualmente
gelada e, por
fim, sem luz).
São segundos.
Eu tô firme.
Ninguém cavaria
a neve.
pra recuperar os
restos.
Ficaria aqui
fundido,
isolado enquanto
dura
a eternidade do
gelo.
A conservação
seria
paz? Ou seria o
contrário:
Tomar a volta do
ciclo,
não apenas estar
junto,
mas ser
atomicamente
parte de algo
todo novo.
Paz é
decomposição?
Só segundos.
Eu tô firme.
Como um caminhão
sem rumo,
como um avião em
queda,
um dinossauro de
ferro
que cai da
montanha russa,
como o nocaute
de um prédio,
como uma
explosão de lava,
como a cidade
nos ares
que de repente
desaba,
como a última
conversa
quando não há
mais respeito,
a morte de
alguém amado,
assim passa,
como passa
um passo.
Eu tô vivo.