quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Via de mão única

 Isso não é mais conversa.
Nunca tinha percebido,
Há muito não conversamos
mas no mínimo desvio
mais, não por falta de tempo,
de atenção torna-se claro,
nem de palavras jogadas
como a faixa – que me indica
(desviadas por maus ventos
o caminho e me limita
ou desde o início sem rumo,
o espaço – nervosa sobre
incapazes da distância),
o asfalto riscado, pouco
nem (repare que não resta
antes de entrar sob a roda,
em mim nenhum otimismo:)
no canto do para-brisa,
de qualquer coisa a ser dita,
se curva pra dentro, busca
mas parece que por uma
minha direção, enquanto
total falta de interesse.
o carro segue, essa praga.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Shlimazl

Deitado, eu espero o que não vem,
fechado, como um cidadão de bem.

Travado, eu espero o que não vem,
calado, como um cidadão de bem.


Quanto tempo já passou
em segredo, pecador?

Claro que era bom,
via que era bom,
mas não vou assumir
amar
azar.
Sempre vou dizer que nunca
enquanto desejava
outras formas sob os panos
na pele nunca é tarde.
Via que era bom,

é claro que era bom.

domingo, 16 de novembro de 2014

Descida (rascunho de uma quinta parte)



De lá das janelas, computadores
e celulares continuam suas
comunicações sempre repetidas.


Vejo na tela de nuvens
o que a cidade projeta.

Nada nesse mar laranja
nada nesse morto mar
nem o aperto da moldura
entre os prédios, postes, fios
nada desse céu fechado
nem o som se o som chegasse
nem o cheiro se eu soubesse,

lembra a impressão do universo
que tive em outra descida
(com olhos que nem mais tenho)
por uma estrada de terra
margeada pelo mato,
a lua como lanterna,
o chão como um rio claro
na escuridão navegável.

É a diferença de um céu
que encerra e de um que infinita,
do que restringe a ambição
e do que a deixa ferver
em si mesma, por si mesma,
sob a luz (pressão) de nossa
microscópica potência.
E mesmo que as duas vias
lacrem destinos iguais,
não me importa ter os astros
no alcance da mão, só importa
a velha visão marcada
na mente como possível
e o desejo de revê-la.

O que eu só percebo agora.

***

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Descida (rascunho de uma quarta parte)



A porta, o portão, o meio da rua.

De cada lado as lápides preservam
seus andares de corpos esgotados.
Jazigo compacto e compartilhado
com gente de quem não se sabe nada,
como se não fossem mais que só um nome
sem homem, gravado em placa de esquina.

A cor do céu permanece indisposta.

Sobre o sono dos prédios uma só
rua apagada não revela a noite
pelada, nem mostra os dentes do céu,
não transporta pra fora da cidade
onde a iluminação não vem de baixo,
onde as máquinas também têm descanso.

A madrugada pelo céu sem vistas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Descida (rascunho de uma terceira parte)


(clique para ler no tamanho normal)

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Descida (rascunho de uma segunda parte)



OM
calado.
Da varanda,
a colisão
da luz e o ruído
elétrico disperso
fizeram da pane um show.
Talvez toda a cidade seja
(nossas violências consteladas)
performance sádica de uma falha.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Descida (rascunho de uma primeira parte)

Raio forjado no erro.

O transformador estoura
e a noite acende por baixo
as janelas apagadas.

Fogos reais de artifício.

As quadras sofrem o uivo
intenso que oscila, rasga
o animal de ferro e some.

Deixa o apagão como um eco.

A calma negra do rio
entre as torres é riscada
por fósforos automóveis.

Mas logo é escuro e silêncio.

terça-feira, 11 de março de 2014

Camelot GP

Como esquenta
o metal,
como esfria.

Seja armadura
ou o automóvel,

Espanta a velocidade:
a cada encontro um duelo
decidido num só golpe,
mas a busca continua.

Se o percurso dá volta e volta
é porque segue como corre o sangue.

Ao cansaço da viagem
se adiciona o da batalha.
Alguns inventam motivos.
Pra outros, ela é o bastante.

A explosão berra ou o berro explode.
O voo rente de fogo e barulho.

Ao cansaço da batalha
se adiciona o da demanda.
Mortos dão lugar a vivos
com a mesma disposição.

Braços e pés ilimitados.
Quando as peças rasgam, a carne a pele

a precisão
da ação define
a procissão do aço.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Pancadas

Como cai
como coro,
melhor seria um soco
que dói, mesmo esperado,
mas numa fincada só.

Nas ruas a chuva insiste.
Não para,
não passa.

Como cai!
Nesse caso,
Mais como espancamento
Pressão que não se afrouxa,
mesmo na dominação.

Na rua a batida insiste
não passa,
não para.

Comecei                   
um barraco
a cogitar a queda,
me mandar morro abaixo
(água dura em terra mel).

Barranco que se mergulha
não para,
apaga,

desce tudo e nada barra.
Mas vamos nos levantar.
Patéticas, barangas
imitações de fênix
encharcadas de lama.
João-bobo de cada aurora.

Mas vamos,
como cai a chuva,
como abre o sol,
como o barro seca.