terça-feira, 11 de agosto de 2015

Releva (2.1)

Por incontáveis vezes esse rosto no espelho olhou meus olhos como um eco do mesmo som de nojo que o dia faz quando me levanta sempre cedo demais e viu que há sempre alguém disposto a abandonar o sono certo e a cama quente por qualquer coisa além da porta. Por incontáveis vezes esse espelho, retrato sem ciúme do que guarda, pôde pegar e soltar minha imagem sem desejo de posse e sem controle, sem sofrer pelo alcance limitado, sem pretensões de eterno ou de memória, sem se rebelar contra e o tempo e o espaço. Aceitar a mudança e o esquecimento talvez seja a lição de todo espelho, que não somente dá respostas óbvias, revelações daquilo que se busca: sugere reflexões a cada vista, e sem a luz do instante não diz nada. Sua sabedoria é se adaptar.