terça-feira, 24 de abril de 2012

Caverna


Era o sol – seu reflexo na água
mas eu via a lua cheia
os projetores de dança
os ecos de vozes na parede.

Na furtividade da luz fria
não alcanço mas assisto
uma saída ou entrada.
O corpo imóvel, quebrado, duro.

Pode não ser real, não me importa.
A verdade voa leve
e muda assim como as sombras.
(Esse correr livre que faz falta.)

Sombras, não vou ligar se for sempre
todo dia igual à noite.
No escuro de olhos abertos
não mina perdão das telas pedras.

domingo, 22 de abril de 2012

Epílogo do Mundo


É incômoda a ideia
de expansão do universo.
Não pelo progressivo isolamento,
mas pela pressuposição do início.

domingo, 15 de abril de 2012

Depois do Mundo (8)

Nossos rastros à miragem.

Eu sou de pedra selvagem
mas é também o deserto.

Essa areia é pó de ossos
de projetos como os nossos.

Nada é inesperado, nem impossível, nem impressionante
nesse mar de ruínas humanas.

Nada é inesperado, nem impossível, nem impressionante
nessa terra de dias cansados.

Eu não sou ninguém,
eu não tenho nada,
eu nem tenho nome.

Por fim volta a lugar nenhum.

Talvez eu tenha:
um tempo curto
(mas que não sei
se é mesmo meu.)

e  o que eu sou
(o que me habita,
nômade como
eu mesmo sou).

Por fim de volta a lugar nenhum.

Na areia os ossos
da cidade em pedaços.
Mas nunca foi bela.

No seco os campos
de esforços improváveis.
Mas nunca foi fácil.

Por fim, de volta a lugar nenhum,
vamos viver como cresce o fogo.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Depois do Mundo (7)


Imagens em arquivos corrompidos.

Quando era limpo.
Quando era certo.
(Quando era falso.)

O que fizemos
e não fizemos
(quando era pouco.)

Assinatura no papel em branco.
O pulo dado à noite sem futuro.
A guerra perdida em tempos de paz.

Persiste o desconforto da memória.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Depois do Mundo (6)


Seu nome era pintura
nas paredes da casa.
As paredes caíram,
hoje são só ruínas.

Seu nome era pintura
gravada na minha pele,
como abrigo do tempo,
como piada triste.

domingo, 1 de abril de 2012

Depois do Mundo (5)

Não houve revelação.
Ninguém precisou buscar
chave do poço do abismo.
Ele sempre esteve aberto.

Não houve revelação,
mas distribuíram medo
da morte e falta de tudo.
Armas dos assinalados.


Se desvia a nuvem de sobre a tenda:
eis que ela era leprosa como a neve.


E somos nós o dragão,
a besta, o falso profeta,
deus falando de futuro
com sua espada na boca.

Revelação somos nós,
no sangue da nossa obra.
Não há senhor, mas apenas
corpos diante do trono
vazio.