domingo, 16 de novembro de 2014

Descida (rascunho de uma quinta parte)



De lá das janelas, computadores
e celulares continuam suas
comunicações sempre repetidas.


Vejo na tela de nuvens
o que a cidade projeta.

Nada nesse mar laranja
nada nesse morto mar
nem o aperto da moldura
entre os prédios, postes, fios
nada desse céu fechado
nem o som se o som chegasse
nem o cheiro se eu soubesse,

lembra a impressão do universo
que tive em outra descida
(com olhos que nem mais tenho)
por uma estrada de terra
margeada pelo mato,
a lua como lanterna,
o chão como um rio claro
na escuridão navegável.

É a diferença de um céu
que encerra e de um que infinita,
do que restringe a ambição
e do que a deixa ferver
em si mesma, por si mesma,
sob a luz (pressão) de nossa
microscópica potência.
E mesmo que as duas vias
lacrem destinos iguais,
não me importa ter os astros
no alcance da mão, só importa
a velha visão marcada
na mente como possível
e o desejo de revê-la.

O que eu só percebo agora.

***

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