terça-feira, 29 de maio de 2012

Sete mil metros (A Montanha)


A montanha se move inanimada
na manhã branca como o amanhã

Como o corpo sempre vivo
de antigos monstros gigantes
jogados no abismo escuro
do mundo recém-criado
ou do mar radioativo
de uma Tóquio alucinada
tenta se agarrar a tudo
e grita sem fala humana
pra que não seja trancado
imóvel no esquecimento,
assim é que a neve abraça
descendo relampejante
e puxa tudo o que toca
pra sepultura brilhante
(mas que se faz igualmente
gelada e, por fim, sem luz).

São segundos.
Eu tô firme.

Ninguém cavaria a neve.
pra recuperar os restos.
Ficaria aqui fundido,
isolado enquanto dura
a eternidade do gelo.
A conservação seria
paz? Ou seria o contrário:
Tomar a volta do ciclo,
não apenas estar junto,
mas ser atomicamente
parte de algo todo novo.
Paz é decomposição?

Só segundos.
Eu tô firme.

Como um caminhão sem rumo,
como um avião em queda,
um dinossauro de ferro
que cai da montanha russa,
como o nocaute de um prédio,
como uma explosão de lava,
como a cidade nos ares
que de repente desaba,
como a última conversa
quando não há mais respeito,
a morte de alguém amado,
assim passa, como passa

um passo.

Eu tô vivo.

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