segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Shlimazl

Deitado, eu espero o que não vem,
fechado, como um cidadão de bem.

Travado, eu espero o que não vem,
calado, como um cidadão de bem.


Quanto tempo já passou
em segredo, pecador?

Claro que era bom,
via que era bom,
mas não vou assumir
amar
azar.
Sempre vou dizer que nunca
enquanto desejava
outras formas sob os panos
na pele nunca é tarde.
Via que era bom,

é claro que era bom.

domingo, 16 de novembro de 2014

Descida (rascunho de uma quinta parte)



De lá das janelas, computadores
e celulares continuam suas
comunicações sempre repetidas.


Vejo na tela de nuvens
o que a cidade projeta.

Nada nesse mar laranja
nada nesse morto mar
nem o aperto da moldura
entre os prédios, postes, fios
nada desse céu fechado
nem o som se o som chegasse
nem o cheiro se eu soubesse,

lembra a impressão do universo
que tive em outra descida
(com olhos que nem mais tenho)
por uma estrada de terra
margeada pelo mato,
a lua como lanterna,
o chão como um rio claro
na escuridão navegável.

É a diferença de um céu
que encerra e de um que infinita,
do que restringe a ambição
e do que a deixa ferver
em si mesma, por si mesma,
sob a luz (pressão) de nossa
microscópica potência.
E mesmo que as duas vias
lacrem destinos iguais,
não me importa ter os astros
no alcance da mão, só importa
a velha visão marcada
na mente como possível
e o desejo de revê-la.

O que eu só percebo agora.

***