quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Trilogia da Fé - Jó


Sentaram no chão comigo
sete dias, sete noites,
e ninguém dizia nada,
porque cada um sabia
que a dor era muito grande.

Não paro pra reclamar,
também nem tento entender.

O rio não tem parada.

Vivo como se vive
tudo que se é presente,
pelo melhor manejo
que parecer possível

e não tem muito mais.

Há o fogo?
Virá o fogo.

Há o vento?
Vem, sim, vento.

E veio
e pronto.

Tem doença que a cura é ir vivendo.

E é bem isso,
O que chega,
deixa chegar.
É bem só isso.

Havia casa?
Quem mais havia?
Tudo acaba.
Todo mundo acaba.
                                   
Os campos giram com os anos.

O que já tive,
eu já perdi.
Tentar, fazer, é tudo aposta,
tem que estar disposto a perder.

Pois eu vim mesmo foi nu,
saí pra vida bem nu,
do ventre de mulher, nu,
e volto assim: só e nu.

Nem procuro mais entender.
Nem paro mais pra reclamar.

Mas que dói, ah, isso dói.
Tem vez que dá pra doer
até muito. Até demais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário