Primeira rede do dia
vazia volta pra areia,
como as barrigas e bocas
que em casa esperam hoje
o que não tiveram ontem.
Sobrou nada na panela.
A segunda rede arrasta
com músculos tensos todo
peso da necessidade.
Seu lote emerge na urgência:
plásticos, restos diversos,
sei lá que desgraça é essa.
Na terceira vez a rede
vem rasgada. Paciência
remenda os nós dos farrapos
e vai, nova tentativa,
(ô, mar que exige improviso!)
sem aquela esperança:
uma quarta vez cansada
se lança e se assenta no fundo.
Puxa devagar e sente
a resistência das fibras
(só peço que não mais lixo),
a força, tá quase, vamo
Já quase não é um rosto.
Isso nem é cor de gente.
Será qual foi seu desastre?
Descansa na praia agora
pelo menos. Que tristeza
talvez também por você.
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