Na noite seguinte Shahrazad
disse:
O alfaiate disse ao
rei da China:
O barbeiro disse ao
grupo:
Eu disse ao califa:
Meu irmão disse:
Diz. Mas já muito antes disso,
quando contou vinte e seis
manhãs dividindo casos
e adiando a morte, soube
ou talvez sentiu ou mesmo
só resolveu apostar:
da próxima vez recebo
a aurora com o fim da
história,
sem garantir com o
suspense
meu passe pra mais um
dia,
só com a promessa de
ainda
servir outra
narrativa.
As sobremesas da cama.
Seria esse o momento
de manter prioridades,
de relembrar a mulher
infiel, a cena, a fúria,
o estrago da confiança,
a violação da posse,
o voto de dedicar-se
não mais que uma vez a cada
nova noiva e então matá-la,
de ouvir o rancor, há dias
calado nas noites de contos.
Diz. Pois na noite seguinte,
quando outra história começa,
soube – dessa vez por certo –
que domina seu ouvinte,
que todo o reino está salvo
do rei das bodas de sangue,
que não conhecia a vida,
só sua imagem de orgulho,
só fantasias de macho,
ficções de propriedade.
Mas depois de tanto ouvir
suas histórias, mulher,
se a vida é enfrentar a falta
de controle e de recursos,
saber sofrer é viver
bem, agora eu reconheço.
Durmo tranquilo ao seu lado
sonos de arrependimentos
sob a coberta dos crimes.
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